domingo, 25 de novembro de 2012

E aí, larara, liriri...

A primeira colaboração para esse bloguinho. Quem nos conta é a chambinha.

Fazia uma semana que estávamos juntos e ele foi me buscar para sairmos. Ele me deu uma rosa com esse bilhete e contou que foi fazer uma foto para uma senhora bem pobre e a filha dela queria pagar, ele disse que viu a rosa, lembrou de mim e pediu a flor como pagamento.
Uma rosa, com amor

"Fazia uma semana que estávamos juntos e ele foi me buscar para sairmos. Ele me deu uma rosa com esse bilhete e contou que foi fazer uma foto para uma senhora bem pobre e a filha dela queria pagar, ele disse que viu a rosa, lembrou de mim e pediu a flor como pagamento."



Em tempos de corações cansados, o amor parece algo completamente inalcançável.
Foram muitos anos trancafiada dentro de muros altos e intransponíveis, cada dia um bar, cada bar um porre, para cada cigarro aceso uma tentativa louca de alucinação, de paixão, de sair de dentro de mim e deixar que qualquer coisa outra habitasse e não minha alma. Era difícil lidar comigo mesma.




Tudo começou com uma frustração amorosa (e poderia ser diferente?). Junto com ela, tinham as frustrações normais do dia a dia e os pequenos descontroles internos, junto com isso vieram as muralhas. Dentro das muralhas e ninguém poderia me atingir, nem amor, nem felicidade, nem nada, dor e solidão sim. Depois de cada porre ou de cada noite perdida vagando por aí com o som alto a única coisa que restava era a dor e a solidão dentro da muralha.
Todo dia saia de casa e pensava: quem sabe hoje eu encontro o "my very special one". Por mais difícil que era, nunca quis perder a esperança. Na verdade perdi uma vez, creio eu. Tem um trecho de um conto do Caio Fernando Abreu, o início, que lembra muito o que senti por mais de 4 anos:
"Como se eu estivesse por fora do movimento da vida. A vida rolando por aí feito roda-gigante, com todo mundo dentro, e eu aqui parada, pateta, sentada no bar. Sem fazer nada, como se tivesse desaprendido a linguagem dos outros. A linguagem que eles usam para se comunicar quando rodam assim e assim por diante nessa roda-gigante. Você tem um passe para a roda-gigante, uma senha, um código, sei lá. Você fala qualquer coisa tipo bá, por exemplo, então o cara deixa você entrar, sentar e rodar junto com os outros. Mas eu fico sempre do lado de fora. Aqui parada, sem saber a palavra certa, sem conseguir adivinhar. Olhando de fora, a cara cheia, louca de vontade de estar lá, rodando junto com eles nessa roda idiota - tá me entendendo, garotão?"
Mais uma noite perdida entre pessoas desconhecidas, álcool e cigarros. Voltei de saco cheio pra casa, quis fechar o olho e morrer, mas decidir ir vasculhar nos becos da internet: bate papo. Sim, eu sei, estranho. De cara cheia entrei com meu nome mesmo e fiquei babando lendo os nicks e as conversas estranhas, tentei novamente fechar os olhos e morrer. De repente Chico Buarque me disse: olá. Achei boring, não nego. Para não dizer que não falei das flores, resolvi corresponder a tentativa de conversa. Não lembro ao certo o que conversamos, mas foram coisas simples inicialmente, coisas bonitas também e como diz o título "E aí, larara, liriri...". Pois é, Chico, desde a primeira palavra, e sabia que era algo diferente. Achei incomum o coração palpitar e pode ser extremamente clichê ter dito que já sabia, mas sabia mesmo. Ele me mandou o MSN, depois de algum tempo de conversa me mandou um vídeo de teste de luz que ele fez no estúdio dele (meu amor é fotógrafo) recitando "Somos todos poetas" do Murilo Mendes. Vi o vídeo 500 vezes seguidas e me encantei pelo jeito de falar e pelos olhos. Desde o início foi tudo muito intenso. Ele é a poesia, a ideologia e o concreto. Eu sou a música, o sonho e a inquietude. Uma vez escrevi algo sobre sentir a risada solta e musicada de alguém que me deixasse calma como se eu ouvisse um mantra e nunca pensei que encontraria isso.
Passamos a conversar todo dia quase o dia inteiro, sobre tudo, sobre nossas personalidades, sobre coisas bonitas e feias, mas não sabíamos que conversávamos na verdade sobre o que era o amor. Passou uma semana e eu, ainda que estava vendo algo surgir dentro de mim, ainda estava frustrada e nunca imaginaria que aquele moço lindo e inteligente poderia querer meu amor. Em um sábado triste bebi o dia todo, chorei e bebi mais. Ainda não havia mais o que fazer senão tentar me livrar de mim. No meio da bebedeira entrei no messenger e ele estava online. Tomei coragem e falei pra ele ir a um lugar que estaria. Todo o perfume do frasco no meu pescoço e fui. Nos desencontramos e eu mais uma vez fiquei frustrada: tomei um bolo, afinal o que um cara desses iria querer comigo. Bem eu, torta, esquisita, feia e perdida. Já estava acostumada. Fui para outro bar e assim que cheguei recebi um telefonema explicando um imprevisto e avisando que iria onde eu estava. Soube a sensação de um coração sair pela boca. Estava bêbada, estava louca, estava triste, quando ele me viu pessoalmente pela primeira vez eu estava segurando uma garrafa de cachaça na mão, balançando o cabelo e cantando um grunge na porta de um bar junto com um amigo. Vi ele, não tomei coragem de dizer oi. Ele também não, olhávamo-nos de canto de olhos. FInalmente me disse oi, trocamos poucas palavras e voltei para meus amigos, insana e sem noção. Depois de um tempo um outro amigo queria ir embora (ele estava de carona comigo) e eu demorei meia hora pra tomar coragem de dizer tchau, triste por não termos conversado. Meu amigo me motivou ("ou você vai ou eu vou lá e chamo ele aqui e você fica com cara de 11 anos") e fui. Fiquei quase 2 horas conversando sobre tudo de mais lindo e não conseguia não olhar para a boca e os olhos mais lindos que já vi. Nada rolou, fui embora e lembro que disse para um amigo que estava no banco da frente do carro: quero casar com ele amanhã, ele é o cara mais inteligente do mundo, Desde então nos vimos dia seguinte, não falamos, depois segunda feira novamente, eu em mais um outro bar e bêbada novamente. Sempre andava assim, tentava suprir com álcool o que me causava vazio. Mais uma vez me apaixonei pelos olhos, pela inteligência, por tudo. Não conseguia ver algum tipo de interesse da parte dele, mas minha amiga dizia que era óbvio que ele gostava de mim.
Parecíamos crianças quando conversávamos na internet: ele implicava com tudo, toda hora, eu irritava-me, brigava. Certo dia, cansada, disse definitivamente (já havia perguntado antes por causa da implicância em excesso): quando você descobrir qual seu problema comigo, voltamos a conversar. Ele disse que não tinha nenhum e eu quis saber, então, o motivo de tanta implicância, he said: quero chamar sua atenção, você é uma garota encantadora. Talvez eu tenha chorado por dentro quando li isso.
Não queria assumir pra mim mesma que estava me apaixonando por um desconhecido. Bem eu, durona, cowboy, me apaixonar? Prefiro uma vodka. Meu filme western não poderia ser assim, minha super 8 não gravaria essas cenas.
Começamos a trocar SMS sobre coisas aleatórias, ele iria viajar para o litoral fazer uma cobertura fotográfica de um evento, disse que queria me ver e eu sempre me mostrava indisponivel. No fim de semana em que ele estava na praia, acordei sábado com uma mensagem de bom dia e pedindo pra eu entrar no MSN que ele precisaria me dizer algo. Entrei. Estava triste aquele dia. Triste e sorridente, com o coração cheio de coisas bonitas por ele, mas ainda não queria aceitar. Ele disse que estava com saudades, que gostava de mim. Eu disse que ele não deveria gostar de mim. Sai. Continuamos trocando mensagens que costumo chamar de "chambinho".
Enfim, fui convencida que deveria encontrá-lo segunda. Marquei. Passei mal, fumei meio maço de cigarro em uma hora, tive dor de barriga, tremedeira. Encontrei-o. Me fiz de durona a noite toda e, depois de muitos pedidos, dei o tão esperado beijo e entrei em transe.
Até agora estou em transe e espero nunca mais sair. Desde sempre tudo foi muito especial com ele, ele sempre foi muito doce e especial, sempre é. Do primeiro beijo ao pedido de namoro (me levou em um parque lindo num domingo de manhã e, após ler minha poesia favorita do Fernando Pessoa, me pediu em namoro), das poesias que ele me fez, das músicas e poemas que ele me enviou, cada olhar e cada palavra. Tudo continua muito lindo e pode parecer prematuro com apenas dois meses de relacionamento, mas eu quero isso pelo maior tempo possível na minha vida.
Todo amor que eu pensei que nunca mais fosse sentir é do menino mais lindo, toda felicidade e sorrisos são do menino mais lindo. Passei tanto tempo trancada num calabouço terrível, mas disse pra ele uma vez que sinto-me feliz por sempre ter fugido de tudo, de ter coisas tão passageiras e tantas aventuras nesse tempo, todos esses caminhos tortos me fizeram encontrar o caminho dele.
Ainda continuo me fazendo de durona às vezes, mas sei que esse amor é o que mais vale a pena.

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